domingo, 16 de outubro de 2011

Olhos de amêndoa... tristes.

Era um sábado, 5 de abril. Havia iniciado minhas aulas de teatro pela primeira vez em uma escola de teatro de verdade. Entrei atrasado na turma junto com meu amigo Thiago, já que estávamos na popular 'lista de espera'. Foi nesse dia também que conheci a menina que seria minha futura madrinha de formatura do ensino médio. Hoje, três anos e meio depois, dá pra se ter uma ideia da importância desse dia na minha vida. Mas esse parágrafo é só uma introdução.

Domingo, 6 de abril de 2008.

Era a minha primeira vez em um evento de anime. Tudo ali era novidade para mim e tudo soava bem gratificante aos meus olhos. Hoje em dia sou bem indiferente a isso tudo, mas na época não. Era uma coisa que fazia meu coração vibrar. Foi uma das primeiras aventuras em parceria com o Gabriel, que por acaso é irmão do Thiago. Foi nesse dia também que comprei despretensiosamente um colar com um cordão preto e um pingente em japonês (nunca tive a certeza real de que aquilo era japonês, mas tudo levava a crer que era). Significava Felicidade.

Era só um colar que eu achava bonito e que fazia as pessoas próximas perguntarem o que ele significava. Algumas se contentavam com a resposta simples, outras faziam questão de botar em xeque o significado do colar. Mas a partir do ponto que eu acreditava que aquilo significava Felicidade, iria significar, independente de ser verdade real ou não.

O tempo foi passando e eu fui usando cada vez mais esse tal colar. Era um colar simples, discreto, mas com uma boa dose de mistério. Só eu devia enxergar assim, mas tudo bem. Afinal o colar era meu.

Esse tal colar me acompanhou por poucas e boas. Pois chegou ao ponto de toda vez que saía de casa eu estava com o tal colar. Mesmo que por baixo da camisa, da jaqueta, o que fosse. Me acompanhou na escola, nas minhas apresentações nervosas de teatro, nos meus cursos, no vestibular, na faculdade, nas minhas amizades, nas minhas paixões. Deixou de ser um acessório de vaidade para se tornar um tipo de amuleto.

Cheguei-o a emprestar raríssimas vezes. Lembro de tê-lo emprestado pra uma amiga que estava com muita dor e que estava prestes a fazer uma prova importante. Emprestei também pra Rebeca quando ela foi fazer o teste vocal para o Ídolos. Emprestei-o pra Luana por último. Todas as vezes com o objetivo de me fazer presente mesmo sem estar.

Em um determinado momento desses últimos dois anos decidi que queria dar o colar de presente para alguém que eu achasse realmente especial e que iria fazer bom uso dele. Na época eu achava que iria ser a menina que eu gostava na época. Não foi. Depois achei que fossem ser n pessoas diferentes até que acabei esquecendo dessa tal 'procura' naturalmente. Enquanto isso meu colar-amuleto ia me acompanhando nas minhas experiências e fracassos da vida enquanto descascava por si próprio naturalmente.

Emprestei-o pra Luana por último

Estávamos em um trem com destino a São Caetano. O dia certo eu não me lembro. Estávamos de pé, não havia lugares para sentar. Luana com seus olhos de amêndoa tristes. Não sabia o porquê de estarem tristes dessa vez. Só sabia que estavam mais que o habitual. Decidi emprestar meu colar pra ela. Mais uma das raríssimas vezes que o emprestei, mas dessa vez com um prazo maior de empréstimo e a condição de só ser devolvido quando ela realmente estivesse bem. Passou-se uma semana, passou-se duas, passou-se três.
E confesso que o colar ficou muito melhor nela do que em mim. Talvez o enigmatismo oriental do colar tenha caído como uma luva em seu próprio charme nipônico de choque de continentes.

Acontece que o tempo foi passando. Meu colar continuava com a Luana. Minha relação com ela se tornava cada vez mais obscura e densa. Cada dia mais distante do que era antes. E meu colar ainda com ela. Era o fim dando palpites na nossa história.

Um dia, em um breve suspiro da nossa densidade (que pra ser sincero eu mesmo que devo ter criado), decidi fazer aquilo que adiei por mais de um ano. Decidi repassar o colar. Era da Luana oficialmente desde então.

Realmente o significado inicial do colar havia mudado. Era uma pessoa especial para mim? Sim, era. Ela iria fazer bom uso dele? Não sei, talvez o colar nem exista mais hoje enquanto termino esse texto. Mas o grande significado da repassagem do colar para mim era a transposição do tempo. Uma forma de tentar congelar as boas lembranças e o lado bom de tudo enquanto era possível lembrar e sentir falta disso. Uma forma de lembrar a mim mesmo que houve sim momentos bons e que mesmo com a passagem do tempo eu iria fazer da ausência física do colar uma forma de se fazer presente os sentimentos vibrantes de outrora.


Domingo, 16 de outubro de 2011.

Não sei como terminar esse texto. Não sei de fato que tipo de mensagem deixar ou não deixar. Só me resta deixar o final em aberto, assim como a vida geralmente faz. Espero que a aniversariante desse dia de 23 horas esteja bem onde estiver. Que brilhe onde estiver. Independente de ter chegado ao final desse texto ou não.

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