Debaixo de sete chaves.

Quinta-feira, 9 de junho de 2011. Hoje se completam exatos seis meses que não ouço e não vejo o tom de voz e o brilho dos olhos da minha especial amiga Milena.
Mentira.

Domingo, 29 de maio de 2011. Havia marcado de assistir a peça Arritmia com a Milena. A peça tinha três horas de duração e era dividida em duas partes (uma no sábado e outra no domingo).
Como era o último fim de semana da temporada de apresentação, as duas partes seriam executadas em ambos os dias. Decidimos assistir tudo no domingo.
Iria rever minha especial amiga antes de completar os tais seis meses de ausência.
Milena teve muitos problemas pessoais durante a semana e isso aumentou ainda mais minha necessidade em vê-la.
Já no domingo, ela me avisou, por MSN, que não estava mais afim de ir, por preguiça. ¬¬
Não havia motivos para me enfurecer, mas fiquei com uma sensação de decepção mesmo assim.
Pensei em chamar outra pessoa, mas a hora não ajudava. Decidi ir comigo mesmo.
Como tinha de chegar mais cedo pra garantir os ingressos (para a parte I e II), teria tempo de refletir sobre a vida (há quanto tempo não falava sozinho com meus pensamentos...) e ler um bom livro (o que a Deyse me deu).
Como sou aluno de teatro do Viva Arte Viva, além de pagar meia, ganharia outro ingresso. Por ir sozinho, achei que não iriam me entregar o ingresso a mais da qual eu teria direito se levasse um acompanhante. Me enganei.
Bem, estava com ingresso a mais e não havia nenhuma lata de reciclagem por perto.
Fiquei pensando como a vida era injusta, de eu não poder rever minha amiga, de estar ali sozinho. De que nem as pombas que estavam comendo salgadinho ali perto, no chão, estavam sozinhas. Depois caí na real de que minha atuação de protagonista de filme de drama estava muito mal feita. Pra ser um drama de verdade, o protagonista tem de lutar até as últimas conseqüências, não ficar acomodado em um canto chorando as pitangas. Coisa de viadinho isso.
Decidi mandar uma SMS pra Milena às 16h08 (a 1ª parte da peça começava às 17h):

Bem, caso sua preguiça passe, você tem até às 16h55 pra chegar aqui. beijos.

Como já estava com os ingressos em mãos e ainda não havia almoçado, decidi ir no Habib’s. Encontrei o Noah lá. Mas para não ter de dividir meu lanche, só fui cumprimentá-lo depois de comer tudo. Enquanto comia, Milena me respondeu às 16h30:

Sua mensagem chegou 16:28. Minha preguica passou mas ainda estou de pijamas

Respondi às 16h31:
Então corra senão terei de dar os ingressos para o mendigo.

Como em um jogo de ping-pong, recebi a resposta às 16h35:
Porra que odio, minha cunhada ta lavando a bunda gorda dela no banheiro. Torce pra ela sair rapido


Na hora de pagar a conta, me recusei a pagar a taxa do garçom. A moça do caixa perguntou se eu havia sido mal atendido. Respondi que não, que era opção pessoal mesmo (chega de enriquecer esses manolos capitalistas, né? Se a taxa do garçom realmente fosse pro garçom, eu pagava).
Já de volta a fila, aquela ponta de ansiedade pra saber o final do capítulo da novela da minha vida naquele dia. Meu celular vibrou (16h43):

Não vai dar tempo Rond :/

Três minutos depois, enviei:
10 minutos ainda. mas se não der, blz. já ficarei feliz por ter tentado chegar na 1 parte. lembrando que a segunda começa às 19h.

Bem, pelo menos havia tentado. A fila já estava se formando. Faltavam menos de 10 minutos para o início da peça. Mas havia a segunda parte, e eu tinha certeza de que iria vê-la.
Porém às 16h53:

To pronta, vou de carro

Final emocionante e inesperado. Já estava na fila e nada dela chegar. Olhava para o semáforo e nada. 16h57 e nada. 16h59 e nada. 17h e nada. O árbitro (vulgo diretor) da peça havia dado um acréscimo e a peça atrasou uns minutinhos. Que bom, Milena apareceu no horizonte. Seus pais a haviam trazido. Nem lembro mais que horas eram, só sei que foi muito bom abraçá-la depois de tanto tempo.
Final feliz e a certeza de que podemos definir os rumos de nossas vidas, a certeza de que podemos mudar o nosso destino.

E a peça foi muito boa também, uma das melhores que já vi.