domingo, 29 de janeiro de 2012

Técnico em Arte Dramática.

Sexta-feira, 9 de dezembro de 2011.

Estava chovendo. Era dia da reapresentação da peça da oficina de comédia do Viva Arte Viva. Estava determinado a repetir a apresentação épica que foi da primeira vez (que foi épica mesmo com erros). Dessa vez não me permitiria errar. E no final das contas ocorreu tudo bem.

Mas antes de ir pra Estação Jovem, onde iria ser a peça, resolvi passar na Fundação das Artes para me inscrever no teste do curso profissionalizante de teatro. Era o penúltimo dia de inscrições. O teste já seria no domingo e eu só fiquei sabendo disso na hora. Mas tudo bem, não vi problema nenhum nisso inicialmente.

Engraçado que dois professores do Viva me incentivaram durante o ano a me inscrever. Um deles foi o Marcelo (orientador da oficina de comédia), quando eu disse que havia enjoado dos “clichês” do Viva. E a outra foi a Gabi (orientadora da oficina de Expressão Corporal), que me perguntou espontaneamente se eu já havia pensado em fazer o profissionalizante.
Como a cada dia que passava eu me apegava mais a ideia, resolvi me inscrever mesmo.


Era sexta e eu tinha de decorar os textos do teste até o domingo de manhã.


Domingo, 11 de dezembro de 2011.

Não fui ao teste. Não havia decorado os textos a tempo.


Segunda, 12 de dezembro de 2011.

Me ligaram da Fundação das Artes dizendo que haveria um novo teste no sábado seguinte e que eu poderia ir. Confirmei presença, afinal dessa vez eu tinha quase uma semana para decorar os textos.


Sábado, 17 de dezembro de 2011.

Era o dia do tão aguardado teste. E mais uma vez eu não havia decorado os textos. Comecei a tentar decorá-los de madrugada e acabei indo dormir antes de conseguir. Mas dessa vez resolvi dar as caras no teste mesmo assim. Qualquer coisa eu improvisaria. Dar a cara pra bater e improvisar são características do teatro. Talvez eu até ganhasse pontos por isso, já que iria perder muitos outros...

Minha doce ilusão de que eu poderia ler os textos durante a apresentação caiu por água abaixo logo de cara ao explicarem as regras. Pra ajudar eu ainda tinha de escolher uma pessoa pra ser minha réplica em cena (alguém que iria ler as falas de outra personagem para a cena-teste fluir, já que não eram textos monólogos). Por sorte perguntaram quem estava sem réplica. Uma menina então se ofereceu pra me ajudar.

Minha maré de micro-sortes continuou ao saber que a ordem das apresentações seguiria por ordem alfabética. Havia ganhado alguns minutos para decorar os textos que eu deveria ter decorado naquela semana. Primeiro eu tinha de apresentar o texto nacional. Havia escolhido “Quem casa quer casa” de Martins Pena.
Anunciaram meu nome. Subi ao palco e entreguei meu texto para a menina que havia aceitado ser minha réplica. Todas as apresentações anteriores estavam super densas e ensaiadas e isso aumentou ainda mais meu nervosismo.

A cena poderia durar no máximo 2 minutos, podendo ser encerrada pelos jurados a qualquer momento ao soar do sininho. Todas as cenas apresentadas antes de mim foram encerradas pelo sininho. Tive de encerrar minha cena (por não saber mais falas) antes mesmo do sininho soar. Mas não foi tão ruim assim. Os jurados (alguns deles que já foram meus professores no Viva) riram. Os outros candidatos também riram. Talvez tenham rido da minha cara de pau, mas riram.

A rodada de apresentações de textos internacionais começou logo depois da candidata que se apresentou depois de mim. Eu tinha outra vez outros poucos minutos pra decorar outro texto. Coisa fácil, Shakespeare. “As alegres comadres de Windsor” pra ser mais exato. Pedi pra menina legal ser minha réplica de novo. Ela aceitou, ainda bem.

Enquanto isso uma outra menina começou do nada a mexer nos meus cabelos dizendo que havia achado eles legais. A única reação que eu poderia ter era continuar tentando decorar Shakespeare já que o tempo estava escasso.

Anunciaram meu nome novamente. Estava prestes a fazer Shakespeare se revirar no túmulo. Resolvi pegar um trecho onde a minha réplica teria mais falas que eu (assim eu gastaria o tempo dentro daqueles dois minutos limite). Sabendo menos falas que no texto nacional, resolvi apelar pra vozes e gestos engraçados (ou quase isso). Minha cara de “não faço a mínima ideia do que estou fazendo” era notável. Mais uma vez jurados e candidatos riram. E dessa vez o sino soou pra eu sair de cena. Ufa! Estava aliviado.

Antes da sequência dos testes, um intervalo.

O pior já havia passado, com certeza. Mas eu tinha de compensar as apresentações pífias anteriores com boas notas nos testes restantes.

Durante o teste de improvisação nos foi pedido para que, em dupla, falássemos de nossos próprios defeitos fingindo estar falando de uma terceira pessoa. Falei sobre um menino que não decorou os textos para o teste na Fundação das Artes mesmo tendo uma semana inteira para isso.

O teste seguinte era o de redação. O tema era “o teatro como agente de transformação”. Resolvi escrever sobre mim mesmo fingindo estar falando de uma terceira pessoa, rs. Falei sobre meu amadurecimento pessoal e sobre minha superação de preconceitos ao longo dos anos em que fiz teatro.

Depois da redação sentei em uma das mesinhas perto da cantina para esperar a hora da entrevista. Uma outra menina sentou também na mesinha e disse que havia me assistido apresentar Morte e Vida Severina em 2009 no Alcina . Interessante, né?

Fui para a entrevista. Lá um dos jurados (o Pedro) me perguntou se era verdade aquela parte de não ter decorado os textos. Foi um momento divertido da entrevista. Fora isso, várias perguntas sobre o que havia me levado a querer fazer teatro profissionalmente. Não lembro direito das minhas respostas. Se me fizessem essas perguntas agora, enquanto escrevo esse texto, eu também não saberia responder com exatidão.


Terça-feira, 20 de dezembro de 2011.

Dia da divulgação da relação de classificados. Meu nome estava presente na lista.


Fim do 1º ato.

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