domingo, 6 de março de 2011

Medo do escuro.

Sábado, 26 de fevereiro de 2011. Era noite e estávamos jogando bola no parque Chico Mendes. Um pouco antes de irmos embora, a luz do parque havia apagado. Breu total naquela merda. Depois, percebemos que havia acabado a força em toda a rua. Depois, percebemos que a força havia acabado em todo o quarteirão. Depois, suspeitamos que a força havia acabado no mundo inteiro.

Como havia deixado meus pertences na casa do Gabriel, tive de ir até lá, enquanto os demais (Eliezer e Jefferson) voltavam para suas respectivas casas.

Já na casa do Gabriel, constatamos que não havia nada para fazer. Se um de nós fosse mulher até tinha, mas a situação era bem diferente.
Eu ia voltar pra casa, mas ele me convenceu de que não ia ter nada pra fazer lá também. (E, de fato, ele tinha razão. Sem energia elétrica = sem conversas com vadias virtuais). Então, ficamos por lá conversando.

Mas eu estava com uma fome do caralho e não estava com vontade de conversar até que eu resolvesse esse grande problema: arrumar algum lugar pra comer. Por sorte, ao observar a rua, avistei a pizzaria da esquina aberta e funcionando a luz de velas.
Decidi ir até lá comprar uma pizza marota.

Ao entrarmos no recinto, aquela desconfiança por parte dos funcionários. Nem tanto por causa do Gabriel, já que ele é totalmente branco. Mas como, naquele escuro, só era possível enxergar meu branco dos olhos e meu amarelo dos dentes, eles devem ter entrado em estado de alerta contra assaltos imediatamente.
Pedimos a pizza mais barata. Para sermos criativos, pedimos uma meio-a-meio. Meia Calabresa e meia Baiana (que era idêntica a de calabresa, só que era calabresa ralada). 14 reais. Peguei uma Pepsi dois litros também. Apenas 6 reais. APENAS É O CARALHO! Assalto na cara dura. Mas como não tínhamos outra opção naquele momento, lá se foram meus 20 reais.

Enquanto a pizza era feita, ouvi os funcionários da pizzaria comentando sobre o porquê da luz ter acabado. Parece que alguns entregadores viram um homem tentando se matar na torre de energia. E, para que tudo não virasse um espetáculo pirotécnico, decidiram cortar a energia da cidade inteira (e alguns arredores) até que resgatassem o sujeito.

De volta a casa do Gabriel, ficamos conversando sobre o sentido da vida, da onde viemos, pra onde vamos, sobre espíritos, sobre o que levaria alguém (e aquele homem da torre) a querer se matar. Até sobrou tempo pra falar sobre ET's. Todos os tipos de conversas que não deveriam ser conversadas no escuro.

Quando fiquei com medo o suficiente, decidi observar a beleza das estrelas daquela noite. Precisou acabar a força para eu notá-las...

Havia passado da meia-noite e eu decidi encarar o breu total e partir de volta pra casa.

E como me caguei de medo pra subir aquela rua, hein? Me sentia o próprio man who walks alone da música Fear of the Dark do Iron Maiden. Sei que se alguma mão encostasse no meu ombro, eu iria gritar sem hesitar.
Mas eis que a luz volta do nada e uma sensação de alívio se deu em minha pessoa. E não só em mim. Era possível ouvir pessoas comemorando. Pessoas que agora poderiam tomar seus banhos semanais com o chuveiro quentinho.

E sim, eu tenho medo do escuro.

http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2011/02/27/falta-de-energia-atinge-cidades-do-grande-abc-e-parte-de-sao-paulo.jhtm

Um comentário:

  1. Gabriel aqui.
    Do jeito que você fala que sou branco me sinto o Greg do todo mundo odeia o Chris! haha

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