sábado, 19 de março de 2011

Diário de um detento / De volta ao planeta dos macacos.

Domingo, 13 de março de 2011. Estava em ponto 9h da manhã na casa do Gabriel para irmos ao Zoológico. Havia acordado às 8h após ter ido dormir por voltas das 4h. O motivo de ter ido dormir tão tarde foi mais uma conversa shakespeariana com a Luana. Um misto de brigas, reconciliações, brigas, despedidas, brigas, poesia e reconciliações que temos periodicamente.
Mas enfim, estava de pé no domingão para mais uma aventura cultural.

Tudo indo bem até chegar a hora de comprar as meias-entradas para o zoológico no Terminal Jabaquara. A moça do caixa ficou desconfiada da minha carteirinha da UFABC. Provavelmente ela nunca havia ouvido falar em UFABC ou Ciências & Humanidades antes. Então não a culpo de achar suspeito. Ainda mais que a carteirinha da UFABC não tem data de validade graças a competência da equipe de lusitanos da PROGRAD. Mas eu tinha um atestado de matricula maroto na carteira para compensar. Mesmo assim, ela continuou suspeitando. Deve ser porque sou negro, então não a culpo de achar suspeito. [2] Afinal, só crianças e gente branca vão ao zoológico. Um negro livre no zoológico é realmente de se ter pulgas atrás da orelha.

Já no zoológico, parecia uma criança boba vendo os bichanos. Tirava fotos, sorria e conversava com eles.
Ri demais quando vimos o Leão-marinho se espreguiçando ao acordar e ser comparado com o Thiago acordando, pelo Gabriel. Foi a melhor piada do dia.

Mas a alegria durou pouco. Primeiro, porque haviam várias máquinas de refrigerante espalhadas pelo Zôo. Só faltava vestirem o tamanduá-bandeira com uma camisa da Coca-Cola. Mas até aí tudo bem, só devo ter ficado com raiva porque estava caro demais os refris.
E eu realmente fiquei puto quando vi a onça-pintada (como se chama uma onça-pintada do sexo masculino: ele ou ela?) (foda-se). A onça ficava ali, andando em círculos em um espaço minúsculo se comparado ao lugar em que deveria estar (um lugar que pudesse correr, pelo menos). Devia ter ficado lelé da cuca. Aí que me toquei que todo aquele lugar era praticamente um presídio. Pássaros engaiolados (havia até uma ave engajada que ficou protestando ao jogar um palito de sorvete, que algum filho-da-puta jogou ali, repetidas vezes contra uma pedra), leões magricelas depressivos e afins. Aliás, o leão ali era tão feio que se me colocassem pra brigar com ele, dava empate. Porque sou um cuzão pra brigas também.
Fiquei mais revoltado ainda na parte dos macacos. Um monte de gente rindo dos macacos cagando uns nos outros e balançando o saco no vidro. Me lembrei do filme “O Planeta dos Macacos”.

Tinha muita criança ali no Zôo, mas elas não tinham culpa de nada. Lembrei da Renata vegetariana que disse não gostar de zoológicos porque tinha dó. E só fui entender o que ela sentia nesse dia.
Podia estar enganado mas minha vontade era libertar todo mundo ali. Tá certo que eu iria virar ração na primeira tentativa, mas enfim, vocês entenderam o que eu quero dizer.

O zoológico é uma prisão, sim. Com muitas celas solitárias (como é possível um animal do tamanho de um elefante ser feliz sozinho?). Algumas coletivas. Algumas em regime semi-aberto. Mas todas elas com algo em comum: serem formadas por prisioneiros que nunca cometeram um crime.





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