domingo, 30 de setembro de 2012

Gato-mia!

Sábado, 14 de julho de 2012.


Primeira vez na vida em que meus cabelos estavam experimentando a sensação de ter contato com alguns bobs coloridos que nem os de Dona Florinda. Era 14 de julho, dez dias depois do feriado de independência norte-americano. Clima de paz, ao som das batidas do som contagiante de Bob Marley. Porém, por trás do clima de paz e amor, o prelúdio de uma batalha que estava por vir. Pois era 14 de julho, como eu disse. Dia que poderia ficar na história da Turma 52 como mais um dia a ser esquecido ou como um inesquecível dia de glória a ser lembrado por toda a eternidade possível.

A sensação era de tensão pré-conspiratória. Tínhamos um plano a ser executado, a única chance de virar o jogo. Esperanças depositadas na última flecha a ser atirada. Uma operação Cavalo de Tróia em miniatura. Só que ao invés do cavalo, nosso animal era o gato. E no lugar de Troia estava o Bairro Prosperidade, longínqua e misteriosa ilha afastada dos centros urbanos de São Caetano do Sul.

Mas eu ainda estava com bobs na cabeça. Enquanto isso, Warllen e seus amigos já haviam partido com a maior parte de nosso carregamento direto de Mogi das Cruzes.

Quando eu já não estava mais de bobs na cabeça, meus cabelos já não eram mais os mesmos. Resolvi pôr uma touca para disfarçar. Enquanto isso, Vanesca partia de São Bernardo para buscar eu e meus outros dois companheiros felinos de bobs - Luana e Danilo -rumo à próxima parte do plano. Quando ela chegou, Isabella também já estava conosco para completar o time. Enquanto isso, nossos rivais se concentravam e brincavam de pega-pega em frente à Fundação das Artes. Com certeza eles também tinham um plano.

Danilo, Isabella e Luana partiriam a pé e de bilhete único para juntar o carregamento que estava na casa da vó da Luana com o carregamento que vinha de Mogi das Cruzes. Eu, com touca na cabeça, seguiria com a Vanesca até o carro que trazia mais carregamentos de Santo André, trazidos por Gabriela e sua mãe. Após deslocar tudo para o carro de Vanesca, seguimos até o fórum de São Caetano, onde Jeisa - impossibilitada de lutar nesse dia - nos aguardava com mais carregamentos. Partimos rumo à Estação Jovem.

Enquanto isso, Amanda Furlan me ligava para avisar que estava partindo com o carro de sua amiga para auxiliar os que seguiam a pé rumo ao cumprimento da etapa-cruzamento São Caetano x Mogi das Cruzes.  À essa altura eu já não sabia mais de onde as coisas saiam.

Na Estação Jovem, nos aguardavam os felinos Marco, Rafael, Larissa, a irmã da Larissa, e a gato de guerra Rosane. (Gato de Guerra é o nome que demos aos nossos aliados oriundos da equipe Cabo de Guerra que já não tinha mais chances de vitória). Todos eles seguiram no carro da irmã de Larissa rumo ao campo de batalha do bairro Prosperidade.

Eu voltei ao carro onde estava para prosseguirmos também rumo ao campo de batalha.

Chegando lá, encontramos nossos rivais. Sim, eles também viajaram à ilha de Prosperidade. Só nos restava saber se tinham alguma carta na manga além da presença física.

Faltavam poucas horas para que aquele jogo/gincana/torneio/guerra terminasse. Nossa estratégia de deixar toda a contagem de carregamentos para a última hora teve de ser revista pela incerteza de que daria tempo de tudo ser contabilizado. Enquanto isso, Elanio chegava de Mauá.

Descarregamos o carro de Vanesca. Alguns dos que brincavam de pega-pega deram uma pausa para ver.

Enquanto isso, o carro de Furlan e sua amiga se escondia próximo à ilha para a hora da invasão final.

Alguns dos que brincavam de pega-pega armaram um plano emergencial que parecia ser algo movido a telefonemas e improviso.

Mesmo assim minhas mãos trêmulas temiam pelo pior, afinal, estávamos quase 300 pontos atrás na pontuação.

O tempo passava lentamente. Ansiedade e esforço se misturavam anônimos naqueles momentos.

Enquanto isso, parte de nossa tropa tentava chegar - via ônibus - cheia de coisas ainda a trazer. Talvez não desse tempo. Nessa hora, a amiga de Furlan se dispôs a ir auxiliá-los guiada por um GPS e um coração aventureiro.

De táxi, chegavam mais dois reforços: Amanda Oliveira e Iane Moura. Com mais carregamentos, é claro.

Em meio à paralisia e revolta/indignação dos que brincavam de pega-pega e cantavam vitória no dia anterior, nós felinos nos comportávamos como uma verdadeira indústria de organização e contabilização de prendas. Menos eu que estava com as mãos trêmulas e não poderia ajudar, é claro.

Meu maior medo é que do portão que estava ao meu lado esquerdo saísse alguma resposta triunfal de nossos rivais que já quase estavam trocando o pega-pega por alguma brincadeira mais violenta, tipo morto-vivo.

Para um pouco de alívio, o carro da amiga de Furlan que trazia os outros remanescentes que ainda restavam, chegou. Com muito mais carregamentos, é claro.

Nem havia percebido, mas havia mais uma Gato de Guerra nos auxiliando ali de última hora. Joelma Schmidt, conhecida por ter liderado grande parte de sua falecida equipe quase que sozinha.

Nossa equipe estava completa. Em uma garantia de política de bastidores, exigimos que a possibilidade de pontuação fosse zerada às 17h30. E assim foi feito.

17h30! Minhas mãos deixaram de tremer. O Intercult ainda não havia acabado, mas o plano Pulo do Gato havia sido deveras bem executado. Dei-me a liberdade de brincar de caça ao tesouro junto daqueles que gostavam de brincar de pega-pega. Gostavam... porque depois desse dia nunca mais iriam querer brincar 
disso.

Nas entrelinhas, e nos olhos daqueles que possuíam o resultado do jogo, ficava claro o sucesso de nosso plano e a vitória da nossa equipe.

No quase choro dos que gostavam de brincar de pega-pega, o arrependimento de terem atirado o pau no gato antes da hora.

No olhar acima do horizonte que nossa equipe felina carregava, a convicção de que não éramos simples gatos naquela ocasião. Éramos verdadeiros leões e leoas que deixavam suas patas cravadas na calçada da fama de todas as turmas de teatro da Fundação das Artes. Uma história a ser contada por toda a eternidade possível para todos aqueles que um dia se interessarem em saber como foi o desfecho final do 1º Intercult. As últimas horas de uma disputa que durou quase quinze dias e que terminou de maneira surpreendente para muitos – quase todos. Um 14 de julho para não ser esquecido jamais.

Evoé, Gato-Mia!


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