quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Is There Anybody Out There?

Hoje aconteceu um fato muito triste na UFABC. Um professor se jogou do 11º andar. Toda a comunidade acadêmica ficou abalada. Alguns faziam piada (talvez, assim como eu, não acreditassem na seriedade do fato). Tal professor deixa esposa e filhos. Deixou também um blog. E ao se aprofundar nesse blog descobrimos toda uma carga emocional de angústias e questionamentos. Seu último post no blog foi dois dias atrás:


"O mito de Sísifo (ou Orfeu e Eurídice)
É hora de fechar este blog: eu não sei mais escrever.


Ontem cheguei ao fundo do poço. No começo do dia encarei o abismo por longos minutos, decidindo se dava um passo à frente ou não, depois vaguei o dia todo a pé sem rumo, sem lugar para ir e sem praticamente falar com qualquer pessoa, só para terminar o dia muito cansado.
Na verdade, dizer que eu estava muito cansado é pouco. Em minha sala de trabalho há um gaveteiro móvel pequeno, de três gavetas; apaguei as luzes da sala e da frente dela, movi o gaveteiro alguns centímetros e deitei no chão, entre ele e a parede, pateticamente escondido do mundo. Oito de cada dez pensamentos meus eram realmente deprimentes e os outros dois não significavam nada. Dormi sentindo o frio do chão e balbuciando qualquer coisa, tendo comido durante o dia todo um cookie, um Polenguinho, um copo de suco de laranja, um café, uma esfirra, mais um café e duas bolachas.
E hoje às seis da manhã eu estava de pé de novo. Para quê?
Estou acabado, e acho que este blog deve também acabar: assim seja."


Os comentários deste post:


"Charles Morphy D. Santos disse...

Caro Dedalus,
Por favor, não faça isso! Talvez seja o momento de descansar um pouco, aprumar as idéias mas não de desistir!
Abraço


Dedalus disse...

Caro Charles,

Eu vou continuar, talvez e provavelmente, mas em outro lugar e com outro nome, se isso acontecer mesmo: eu preciso me reinventar, pois eu meio que me descriei...
Fica o link do que eu sinto agora:
http://www.youtube.com/watch?v=JlDnevvKud0
Um abraço!"


Mais a fundo no blog temos mais citações angustiantes:


"Na academia, o lema é publicar ou perecer: e assim pilhas de palavras, gráficos e equações são produzidas apenas para aumentar a quantidade das coisas que irão, rapidamente, para o lixo da história, inflando por algum tempo o ego e a reputação local de alguns. Meus colegas cientistas contemporâneos são todos mais produtivos e de maior reputação científica do que eu. No entanto, duvido que daqui a cem anos algo que algum deles - e que eu - tenha publicado até hoje venha a ser lembrado.
Pois é, não quero entender como tanta energia pode ser gasta em tanto trabalho vazio: acho mesmo que eu já deveria estar no lixo. Só que, enquanto isso não acontece, irracionalmente continuo produzindo textos vazios como estes."


"Tenho mais de quarenta anos de idade, alguns diplomas, alguns empregos no currículo, família, filhos - e ontem, debaixo do céu falso de estrelas do planetário, me senti como se eu não tivesse feito nada, como se eu fosse nada, menos que um grão de pó, menor que a coisa mais insignificante que eu possa imaginar."


"Eu, particularmente, amo o saber, como amo a humanidade e outras coisas, e creio que é isso que eu devo passar aos meus alunos (além dos conteúdos): o amor, e a dedicação ao que se ama. Sei que isso deve soar muuuito piegas e ridículo, e sei também que, na academia, dominada por uma ideologia intelectual anti-emocional e algo hipócrita, falar de amor é se expor ao ostracismo e às piadas, mas se você quer realmente atingir um público mais amplo, não é apenas com argumentos racionais que você vai fazê-lo."


"Acabo de chegar do cinema, onde vi uma comédia de Woody Allen. O personagem central do filme é um físico, eu também. O personagem central do filme tenta se matar - mais de uma vez - e, se tivesse uma arma aqui nessa casa, agora, ah!
Morrer. Morrer. Morrer. Não consigo parar de pensar nisso. O meu fluxo de pensamento vai a outras regiões e, invariavelmente, volta a isso.
Razões? Nenhuma, assim como não há nenhuma para eu estar aqui. Mas posso tentar argumentar com o que vi no filme, que é uma comédia agradável sobre relacionamentos, um bando deles. E como em todo filme agradável tudo acaba bem, pois, afinal, ninguém (bem, quase ninguém) vai ao cinema para sair com um gosto ruim na boca.
Mas, obviamente, é tudo uma bobagem enorme: toda essa coisa de relacionamentos humanos é uma merda, que só aparece de forma realista no cinema em raríssimas ocasiões. Deixa eu me explicar melhor: como físico, eu sei que a existência de simetrias é importante; no entanto, embora possam existir simetrias ideais e bonitinhas na natureza, as que existem mesmo, em geral, são feias, quebradas, quase não-simetrias. No relacionamento humano é a mesma coisa: nos filmes e livros pode-se imaginar relacionamentos simétricos, bonitos, regulares, mas o que há no mundo do lado de cá das páginas e telas é algo completamente diferente, quase sempre assimétrico - os lados de um casal quase nunca sentem o mesmo igualmente; um deles está sempre numa posição "superior" e aí pobre de quem é o "inferior".
Por isso tudo, amar e buscar relacionamentos é algo infeliz, estúpido e doentio, mas, felizmente, é uma doença que se cura com a morte (ou assim espero).
Ah! se tivesse um revólver nessa casa, ou se fosse um prédio, não uma casa... Eu sei que, de verdade, eu queria outra coisa, mas o que me resta, hoje, é só querer morrer. E nem isso eu vou conseguir, pelo menos não agora: hoje, eu sofro de um desejo absurdo de amar, que eu sei que não vai ser satisfeito, ficando no lugar dele esse desejo maravilhoso de morrer, que a minha covardia me impede de saciar."




Uma pessoa bem sucedida, com família, inteligente. Realmente agora percebo que isso não é tudo na vida. Estou realmente triste, magoado, pensativo com tudo isso. Não sei se há algo a se fazer. Se devemos aprender uma lição com esse fato e mudar nossas vidas, aproveitá-la melhor, fazer o que gostamos... Será que realmente precisamos esperar uma pessoa morrer pra escutarmos os sentimentos dela? Não sei, mas isso me deixa com mais vontade de viver intensamente minha vida.
Mas talvez eu precise de um abraço antes.
Talvez foi isso que faltou para o Sandro...

Que esteja em paz onde estiver.

http://dedalus-atlas.blogspot.com/

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