terça-feira, 31 de maio de 2011

Capitu.

E todos os meus sonhos apaixonados de adolescência estavam ali, em jogo naquela noite. Todos eles representados naquela figura feminina de cabelos negros e olhos fadigados de sono.

A noite até que se iniciara motivadora. Ela estava alegre, dançante. Estava tão agitada que me senti tímido. Mas estava muito feliz. Meu objetivo seria concluído naquela noite, sem sombra de dúvida. Tudo fora adiado para acontecer nesse dia e iria acontecer, eu sabia disso.

Depois de algumas tentativas frustradas de dança, sentamos em um canto da escada. A hora da valsa se aproximava. Não que eu acredite em contos de fadas, essas coisas. Mas nossa história era quase isso. Pelo menos para mim.
Tudo indicava que eu não era apenas um apaixonado platônico. Ela mesmo que se oferecera a ir ao baile de formatura comigo. E ela estava feliz. Juro que estava.

E a hora da valsa havia chegado. Mesmo sem sabermos fazer aquilo que estávamos fazendo, fizemos. Dançamos. E foi lindo.
E como o tempo é injusto. Todo aquele momento mágico passou como um piscar de olhos. Estava tão feliz que até ergui-a em meus braços. Estava tão feliz em mostrar ao mundo quem era a garota que marcara toda minha adolescência para sempre. A garota que mudou meu jeito de escrever, de ouvir música, de pensar e de amar.
Mas ainda faltava algo.

Após a valsa, sentamos sozinhos, escondidos, atrás de uma das paredes. E antes que pudéssemos fazer qualquer coisa, um dos seguranças da festa nos interrompeu e disse que não poderíamos permanecer ali.
Voltamos ao canto da escada. E, meu Deus, como ela estava linda. Linda com todas as suas imperfeições.

Mas é aí, caro leitor, que se inicia minha derrocada, meu momento de angústia, meu inferno, meu drama.
Ela, subitamente, passou a se isolar. Pôs sua cabeça entre os joelhos, abraçando-os. E eu ali, ao seu lado, surpreso com essa mudança brusca de comportamento. Não parecia mais com aquela pessoa na qual eu me apaixonei. Mesmo assim eu não iria desistir.
Passei a tocar em seus cabelos (que exalavam um perfume único que, creio eu, nunca existiu). Ao mesmo tempo, ela me questionou o que eu estava fazendo. Eu apenas respondi que não sabia, e que apenas não conseguia parar.
Pegava em suas mãos delicadas e ela, por vezes, as tirava das minhas. Tudo isso enquanto variava entre a cabeça nos joelhos e um olhar distante dali.
Mas eu insisti. Eu que tenho o defeito de ser orgulhoso já não estava mais nem aí para mim mesmo. Não mediria sacrifícios, pois só queria tê-la em meus braços aquela noite.
Acariciei seu rosto macio, disse coisas bonitas e sinceras em seu ouvido. Não tive coragem de beijar seu rosto pois ela se mostrava incomodada, de certa forma. Abracei-a, juntei meu rosto por detrás de sua cabeça, de frente para seus cabelos.
Talvez tenha sido o momento mais intenso entre nós dois. Para mim, é claro. Poderia passar o resto de minha vida ali, não precisaria de mais nada.
Mas não era o bastante. Claro que não. E eu sabia disso. Achava que estava tudo se acertando, mas quando repousei minha cabeça em seu ombro, ela se esquivou.
E realmente não sabia o que estava acontecendo. Juro que não sei mesmo.
Tinha vontade de mandar tudo para o espaço, ceder ao orgulho, roubar-lhe um beijo. Ou simplesmente pedir um. Mas não faria sentido algum pra mim agir assim com ela.
Não queria apenas algo casual, ficar. Queria amor, queria amar. Com toda a reverência e vigor dessas quatro letras.

O tempo foi ingrato e o baile chegava ao seu final. Meu primo foi nos buscar.
Era dia de lua cheia, esqueci de dizer.

Mas eu não poderia desistir! Não poderia deixar tudo acabar assim, não daquele jeito!

Pedi para meu primo nos deixar próximo a casa dela. Assim eu ganharia mais um tempo. E meu primo entendeu perfeitamente o que eu queria dizer com isso.

Estava frio. Mas meu coração estava quente. Quase que em um tom de desespero, perguntei se nossa história terminaria daquela forma. E ela me respondeu com uma pergunta de volta: ‘que história?’
Ela estava com frio, então passei meu braço direito por trás de seu pescoço repousando-o em seu ombro para esquentá-la. Disse-me que estava ajudando, ao mesmo tempo em que acelerava seus passos.
E meu coração acelerou junto. Sabia que o fim se aproximava. E que eu iria perder.

Chegamos em frente ao portão de sua casa. Tirou as chaves do bolso e veio em direção ao meu rosto para se despedir.
Mas não! Não poderia aceitar aquilo! Estava errado!
Puxei-a firmemente pelo braço, olhei diretamente ao fundo de seus olhos e com um olhar de quase clemência desabafei:
- E então... tem certeza que a nossa história acabará assim?
Ela respondeu com um “aham”, tirou minha mão de seu braço, não se despediu, virou as costas e entrou em sua casa.

E eu ali, observando-a subir vagarosamente aquelas escadas sem se quer olhar uma vez para trás.
Havia perdido feio aquela luta.
Voltei para casa arrasado, às 4 horas da manhã, de social e gravata, à luz de uma lua cheia maldita.

O sol iria nascer em breve, mas não para mim.

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