O dia? Sábado, 19 de fevereiro de 2011. Um dia que, com certeza, ficará marcado na memória. Um dia em que elevei ao infinito minha admiração e respeito por uma grande amiga. Rebeca Rossi é o seu nome.
Ontem ela participou da 1ª etapa paulistana da audição do programa Ídolos. Na segunda-feira passada conversamos por msn, enquanto eu estava no laboratório de informática da UFABC, sobre a escolha de uma boa música para cantar no sábado.
Acontece que não tivemos contato durante o resto da semana e somente na sexta a noite conversamos novamente. Soube que os amigos dela que iriam acompanhá-la na audição não poderiam ir por diversos motivos. E meio que por ter iniciado toda essa história (http://rondinely92.blogspot.com/2010/11/quando-o-segundo-sol-chegar.html) me senti na obrigação de acompanhar minha cantora favorita na busca de seu sonho. Tive de avisar a minha fiel companheira de aulas aos sábados, Deyse, de última hora, que não poderia ir a faculdade. Também não poderia ir a reunião do teatro da UFABC a tarde (que depois fui descobrir que ela não aconteceu LOL).
Marcamos do pai dela, junto com o resto da família, me buscar por volta das 6h15 em frente ao Alcina. E cheguei lá nesse horário. Estava de noite ainda. Havia até uma espécie de Jack Estripador a 100 metros de mim me encarando. E eu já planejando meios eventuais de fugir e tals. Mandei uma SMS pra Rebeca dizendo que já estava no local combinado e ela respondeu com um "ok bjs".
Ela disse que tinha de estar às 7 horas lá no Canindé para a audição. Bem, já eram 7 horas no fucking relógio, o céu já estava amanhecendo (lindo, por sinal), o Jack Estripador já havia desistido de mim e nada deles aparecerem. Mandei uma outra SMS pra Rebs perguntando se havia acontecido alguma coisa. Mas antes que ela pudesse responder a segunda de minhas mensagens de desespero, uma perua do tipo escolar (sem trocadilhos) havia chegado: eram eles!
Fomos ao som de um bom e velho rock n' roll. Até que o pai da Rebs se enjoou: "esse CD tá uma porcaria!" e tacou o mesmo pela janela. HAHAHA
SOMOS QUEM PODEMOS SER
Chegando lá, uma fila IMENSA de candidatos. Tão imensa quanto a quantidade de estereótipos ali presentes. Vários sertanejos com botas de couro, vários 'blackers' com suas roupas destacadas e cabelos volumosos, entre muitos outros personagens musicais. Era um desfile de moda praticamente. Minha Rebs estava no estilo menininha de 16 anos. Se considerarmos que ela faz 17 anos em abril, ela era muito 'normal' comparado com o resto ali. Seria péssimo se ela tivesse 40 anos e estivesse vestida de adolescente (tipo o vocalista do Charlie Brown Jr.).
Durante a extensa e demorada fila, muitos candidatos, para passarem o tempo, resolveram cantar. Muitos curiosos estavam ali presentes, é verdade, mas havia muita gente que cantava muito bem. Acontece que esses que cantavam muito bem eram, na verdade, covers. Não no sentido de que imitavam determinado artista X, mas no sentido de que eram todos iguais, faltava individualidade pra eles. A Rebeca poderia simplesmente ser cover da Sandy, mas ela sabia que não precisava ficar a sombra de ninguém e tinha de mostrar que ela diferente daquele monte de gente. Ela iria cantar Tiro ao Álvaro dos Demônios da Garoa. Nem preciso dizer mais nada sobre a ousadia dela, né? Uma menina de 16 anos, com voz parecida com a da Sandy, cantando um clássico da MPB, um samba ainda por cima. Sensacional. Nem uma palavra a mais e nenhuma a menos.
Na fila, ouvimos um pouco de meu mp3 juntos, comemos hot-dog com cheddar (não gosto de cheddar), conversamos com uma loira maluca (que lembrava muito o Renato) e tiramos algumas fotos. Ainda na fila, uma menininha nerds perguntou se éramos irmãos. Ela se enganou feio porque a Rebs é muito mais importante que uma irmã para mim.
Já lá dentro do estádio, mais uma comprovação de como a televisão é uma farsa. O tal do Rodrigo Faro dizia o que ia dizer e depois o que toda a galera da arquibancada deveria fazer (seja fazer contagem regressiva, gritar 'êêêê', gesticular). E assim foi feito: várias gravações que, quando passar na TV, enganarão mais um telespectador desavisado.
O banheiro daquele Canindé era tipo uma mistura de pantanal com inferno. Graças a Deus sou homem e não precisei encostar em nada. Apenas prender a respiração.
O lado bom foi que distribuíram água de graça. Melhor ainda: Pepsi de graça! Dane-se meu ódio pelo capitalismo, nunca bebi tanta Pepsi na vida como nesse dia.
Enquanto a Rebs se maquiava, uns outros sertanejos estereotipados cantaram Burguesinha do Seu Jorge para mexer com ela.
SONHOS QUE PODEMOS TER (e teremos!)
Pra ser sincero, eu achava praticamente impossível ela vencer aquele concurso (a única diferença dela pra pequena Miss Sunshine é que ela tinha, de fato, alguma chance de ganhar). Ainda mais depois de ouvir o vencedor do ano passado: o cara cantava muito, mas a música que fizeram pra ele era completamente comercial e ruim. Então ser 'o melhor' não era suficiente para vencer, era preciso se sujeitar a certas condições...
Mas quem era eu pra me comportar como pedra no caminho de minha bela amiga sonhadora. Justo eu que luto contra moinhos de vento a todo momento. Pelo contrário, apoiaria até o último minuto e continuaria apoiando ela depois, independente do resultado. Mas que dava uma aflição, ah, como dava. Principalmente quando ela disse que não ia me decepcionar novamente (já que no Festival de Talentos de São Caetano do Sul ela não pôde competir de última hora). Ela ali, lutando com todas as suas forças por seu sonho, e eu ali do seu lado, admirado por toda aquela coragem e perseverança que emanavam de seus olhos. Respeito. Era só o que poderia sentir e pensar naquele momento.
O número da senha dela era 2195, ou seja, ela só foi chamada pra cantar por volta das 16 horas da tarde (chegamos lá por volta das 7h30). Após muitas conversas (uma delas com uma mulherzinha super hippie que praticava o desapego às causas materiais), algumas massagens pra tirar o nervoso da Rebs (sendo que eu estava bem mais nervoso), eu emprestar meu colar dizendo pra ela me devolver na hora de ir embora (pra ela se lembrar de que não estaria sozinha mesmo estando, já que ninguém poderia acompanhá-la na hora da audição) e algumas fotos; a hora dela cantar havia finalmente chegado. Ela dizia que não estava nervosa, mas isso só lembrava a mim mesmo quando digo que não estou nervoso apenas para não preocupar os demais quando, na verdade, estou morrendo por dentro.
E ela se foi. Eu, o pai dela, a mãe e o irmão fomos até o portão pelo qual ela sairia. Se saísse com pulseiras verdes, significava que ela havia sido aprovada para a próxima fase.
E como foi difícil esperar por ela, hein? A cada respiração era como se sentisse um arranhão no meu peito. Respirar pela boca havia se tornado tão difícil quanto pelo nariz naqueles poucos momentos. Não estava preocupado com o resultado, mas sim com ela. Em como ela reagiria se saísse sem as pulseiras verdes. A mãe dela estava bem nervosa também.
Enquanto isso, vários dos sertanejos e dos blackers estereotipados que vimos na fila saiam com suas pulseiras verdes. Aquela loira maluca que vimos na fila também saiu (sem as pulseiras =/). Isso porque ela disse que fazia aulas de canto desde os 5 anos...
E a Rebeca surgiu no horizonte... sem as pulseiras.
Seu pai quase confundiu as pulseiras que ela já estava usando (que por acaso eram verdes também) com as pulseiras que ela receberia se tivesse sido aprovada.
É... havíamos perdido aquela batalha. Mas não a guerra, é bem verdade. E tínhamos de mostrar isso para ela.
MAS NÓS VIBRAMOS EM OUTRAS FREQUÊNCIAS
Minha missão de vida no resto daquele dia era mostrar pra ela o porquê dela ter perdido. Mostrar que a culpa não era dela. Mostrar toda essa história de vender uma imagem, um produto comercial para a televisão. Que se ela tivesse se vestido de Barbie e cantado uma música da Sandy ou da Kelly Key, ela teria passado. E o tanto de gente de talento que nunca seria aprovado num concurso desses, como um tal de Chico Buarque.
Ela ficou triste, decepcionada, é claro. Qualquer um ficaria. Mas creio que ela compreendeu bem tudo o que eu disse. Que ela é uma estrela de brilho raro. E que estrelas de brilho raro nunca são reconhecidas e admiradas de imediato. Demoram muito até.
Antes deles me levarem embora, passamos no vô dela. Fiz ela ouvir a música Outras Frequências dos Engenheiros do Hawaii enquanto comíamos uns salames marotos.
Ao final do dia, apenas algumas certezas:
- A indústria do entretenimento realmente é acéfala (a jurada que eliminou Rebeca disse que o que ela apresentou não era o que eles procuravam);
- Preciso apressar meu aprendizado de violão pra ajudar a Rebs em seu sonho;
- E que eu preciso respeitar (e muito) o brilho dessa estrela chamada Rebeca Rossi.
PS.: Ainda te devo uma música, Rebs.
=)
http://virgula.uol.com.br/ver/noticia/musica/2010/08/02/255328-alice-cooper-afirma-nao-ser-possivel-encontrar-um-talento-como-bob-dylan-no-american-idol
http://entretenimento.br.msn.com/famosos/fotos-galeria.aspx?cp-documentid=29496591
Segunda-feira, 3 de setembro de 2012.
http://rondinely92.blogspot.com.br/2012/09/sem-voce-aqui.html
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